Olá! Hoje é um dia histórico.
Entra no ar o "Guia do Hoteleiro das Galáxias".
Mostrarei os dois lados do mundo da hospedagem e turismo, um guia para você saber em que situações estará se metendo e que as faculdades correspondentes não te ensinam ou sequer dizem que podem existir.
Trabalho no Rio de Janeiro, uma cidade em que o turismo é forte e o mercado amplo. Mas aqui, a hotelaria é ingrata. Quem se deixa seduzir por essa profissão, não conhece os sacrifícios que os trabalhadores deste ramo passam, não conhecem o "backstage", o lado negro da força.
Garçons, maîtres, telefonistas, recepcionistas, camareiras, seguranças, etc, todas estas profissões estão por trás do teatro, do jogo de marionetes que é um hotel.
Um outro mundo existe por trás dos saguões dos hotéis luxuosos (e, obviamente, também dos hotéis de duas e três estrelas), restaurantes com bufês cheios de comidas com nomes pomposos e funcionários com seus cabelos arrumados, barbas bem feitas e sorrisos amarelos...
Vestiários sujos e cheios de baratas, uma escala de trabalho puxada e cansativa, patrões exploradores e sempre exigentes no quesito "qualidade", uniformes apertados e improvisados, salários cada vez mais baixos!
Nesse mundo de cinco estrelas, os quartos são arrumados por camareiras(os), gente simples e esforçada, mas que por conta da jornada de trabalho e da pressão para limpar cada vez mais e em menos tempo, varre a sujeira pra debaixo dos tapetes e trabalha como pode pra sustentar a família.
A comida que sobra daquele bufê elegante, em alguns hotéís, serve de alimento para os funcionários. Resto dos hóspedes desfarçado com o nome de "restaurante na empresa para os colaboradores".
Apesar de tantas dificuldades e situações claras de exploração e falta de respeito, estranhamente, o poder público parece ignorar essa numerosa classe de trabalhadores.
O sindicado local pouco faz, e serve somente para homologar demissões, que são constantes. Por acaso alguém já ouviu falar em greve da classe hoteleira?
Se alguém já entrou em um hotel, pode constatar os preços abusivos, quando uma garrafa (pequena!!!) de água chega a custar R$5,00 (!!!). Nem todo o valor agregado a um produto simples como uma garrafa de água (sem gás e de marca nacional) justificaria tal valor, três vezes mais que o preço naquela lanchonete da esquina. Fora os 10 ou 15% de taxa de serviço, incidente em tudo quanto é consumo.
A diária de alguns hotéis e em certas acomodações pode custar mais de R$500,00 (!!!!) para solicitações particulares. Em épocas de altíssima temporada (Carnaval e Reveillon) diárias passam facilmente dos R$1.500,00.
Sempre existirão turistas nacionais e estrangeiros dispostos a pagar esses valores. E a pergunta persiste, por que funcionários de hotéis que vivem lotados ganham menos que duas diárias de um hóspede?
No próximos posts, direi como é o salário de um hoteleiro, a rotina de quem trabalha no ramo, casos interessantes, termos hoteleiros, turistas e muito mais. Espero realmente que gostem.
Além de um desabafo pessoal, este blog é dedicado a todos que conheci nessa profissão e àqueles que, apesar de tudo, ainda querem continuar a ser hoteleiros.
Abraços à todos e obrigado pela visita.
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Pôxa, hoteleiro das galáxias. Gostei muito. Realmente tudo é um absurdo e você comentou muito, muito pouco dos absurdos que acontecem na hotelaria do Rio de Janeiro. Eu não sei o que aconteceu com a hotelaria dessa cidade. Finge-se tudo, inclusive a qualidade. Eu, que sou hoteleiro digo à vocês. Eu prefiro ficar em um alojamento bed and breakfast e pagar barato do que ficar em um hotel luxuoso sabendo que estou sendo enganado por uma qualidade que não existe. A não ser, é claro, se eu estivesse rasgando dinheiro. Qualidade em hotelaria, é discurso. Em contar os títulos comprados pelos hotéis às revistas e instituições ditas especializadas no assunto. Me diz... como pode um hotel em Santa Teresa ter a melhor suite do mundo. Sim, ela foi eleita por uma revista americana especializada. Fica a minha pergunta: Será que a criatura que fez essa eleição se lembrou de dar um pulo em Dubai. Sim, porque, uma suite que tem uma torneira de ouro, não pode ser menos luxuosa ou pior ou menos aconchegante do que um hotel em Santa Teresa cercada por tiros e favelas. Você que me lê, sabe quem eu sou.
ResponderExcluirGostei da idéia!
ResponderExcluirser hoteleiro é basicamente ser um escravo, mas é uma profissão do tipo Ame-a ou deixe-a...
Eu sou hoteleiro há 15 anos! Vida cansativa, sacrificada e repleta de esforços pouco ou quase nunca reconhecidos. As vezes me sinto triste no trabalho, não necessariamente pelo salário; ainda consigo relevar essa questão; mas pelo fato de não sermos quase vistos por ninguém no trabalho; fazemos bem a nossa parte e nada se fala, e ao cometermos erros, somos crucificados! E tempo para amigos e família é realmente escasso! Logo, vivemos quase que ilhados. Agora mesmo é tempo de Carnaval; e trabalhar na Zona Sul do Rio nos proporciona a triste realidade de ficar vendo as pessoas se divertindo do lado de fora pelos vidros enquanto nós trabalhamos para a diversão dos outros. Ficamos feito loucos tentando vender passeios turísticos aos hóspedes para tentar aumentar nossa produção financeira sem sucesso, pois, nem um quarto dos nossos clientes chegam a se interessar pelos nossos tão distribuídos tours. As equipes são reduzidas, e sempre tive chefes que me pediam para chegar um pouquinho mais cedo, sair um pouquinho mais tarde por conta de um grupo, que estava por chegar; e esses mesmos chefes já cansaram de me negar meia hora em dias da minha necessidade. Que preço tem a minha excelência individual em vista da excelência da empresa?! O quanto eu tenho valor?! Que preço tem a minha saúde, minha cabeça, meu coração?! Quanto custam os meus sorrisos e minha boa vontade com cada cliente que para na minha frente para pedir serviços à um funcionário qualificado feito eu ao final de um dia de guerra?! Que valor eu tenho para a empresa?! Já cansei de ver amigos super empenhados serem injustiçados, demitidos na minha frente depois de anos inteiros de dedicação à empresa. Já vi funcionários chorando pelos corredores dos hotéis ao serem maltratados por gerentes, hóspedes. Essa semana mesmo eu trabalhei ao lado de uma colega cheia de febre e com a garganta inflamada, que passou o horário dela inteiro sendo acionada por todo mundo, atendendo os telefones que não paravam de tocar, trabalhando em pé por 10 horas. E vá ver a conta bancária dela. Vá ver a receitinha cara que o médico do plano de saúde vagabundo do hotel paga pra ela.
ResponderExcluirDescaradamente os hotéis nos pagam salários baixos, com a justificativa de nós termos caixinha; mas e o nosso valor?! E a nossa aposentadoria?! E o que tem a ver a empresa com a nossa caixinha? Vai entender...
Tristemente, muitos de nós precisamos trabalhar; e para muitos de nós, a Hotelaria é a profissão em que aprendemos as coisas, onde temos contatos e para onde acabamos voltando quando as coisas não dão certo no mundo aqui de fora.
Pelo visto eu também estava disposto a desabafar, rs... Quem sabe a partir daqui não acabamos nos ajudando ainda que seja trocando idéias sobre os nossos sentimentos, não é?!
Meu caro, parabéns pela sua iniciativa. Realmente acho muitos de seus comentários interessantes, porém você parece estar um tanto revoltado com sua profissão. Quando você diz que nunca viu hoteleiro em greve, certamente você sabe que greve é para funcionário público, que sabe quanto vai ganhar e ainda assim reclama. Quem entra na hotelaria, e descobre em pouco tempo todas as dificuldades e fica, sabe que a hotelaria também tem muitos valores, que não foram listados. Imagine-se trabalhando num escritório de contabilidade durante 15 anos, com as mesmas pessoas, segunda a sexta, seu salário será o mesmo durante toda a sua vida praticamente. Desafios??? não existirão...aborrecimentos??? não existirão...e aí qual você prefere? ter contato com as diferentes culturas do mundo,ou como você chama gripe suina, ou escritório de contabilidade? Ah, você também pode ser professor de escola estadual, dar aula para adolescentes...
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